A caminho

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Somos todos peregrinos. A lembrança difusa de um lugar de maravilhas escondido no passado nos leva instintivamente a procurar o paraíso perdido, a pedra que satisfaz todos os desejos, o acolhimento amoroso que um dia nós deixamos para trás. O escritor e monge trapista Thomas Merton escreveu que o nosso coração tenta retornar de todas as formas possíveis a essa fonte mítica que restaura. É a alma insatisfeita que irá procurar esse lugar de paz e amor que um dia nós abandonamos sem perceber. Nós somos viajantes por natureza. Toda a história da humanidade poderia ser descrita como um longo caminho de errâncias individuais e coletivas. Nosso passado é tecido com aventuras, migrações, travessias….

 

E é a falta desse algo indefinível que nos move em direção à essa busca. O grande místico alemão Meister Eckhart dizia que a nossa carência primordial tem raízes ontológicas: ela pode ser definida, simplesmente, como o desejo ardente da alma de se unir a Deus. “Esta semente da alma pode estar encoberta ou oculta, mas jamais aniquilada ou extinta. Vibrante, ela brilha, ilumina, arde, e tende sem cessar para Deus”, escreveu o monge. O autor francês Jacques Schecroum também se refere a essa carência primordial de uma maneira bem simples no livro A história luminosa do príncipe que sentia falta de tudo: “Falta-nos o que está em nós mesmos, o que realmente somos em essência”. Mas para encontrar o que nós somos na realidade, talvez seja preciso se colocar a caminho: enfrentar desafios, ultrapassar dificuldades, saborear vitórias e derrotas, experimentar alegrias e tristezas. E esse é o resumo da história de nossa existência. A vida não é nada mais do que uma viagem.  

 

Peregrinações ou jornadas espirituais são momentos especiais dentro desse longo caminhar a que chamamos de existência. E algumas delas tem o poder de nos levar a um encontro há muito esperado: a união entre nosso coração e uma realidade transcendente. Nesse momento de comunhão, tudo se torna uma única unidade. “Não há diferença entre Deus e a essência de quem somos verdadeiramente”, continua Schecroum. Esse estado prístino, de pura presença e amor, é citado em todas as religiões com os nomes de Deus, Alá, Jeová, Princípio Único ou Realidade Suprema. Ou, então, como o  sagrado, aquilo que é capaz de penetrar e transformar profundamente nosso coração. 

 

Para que isso ocorra numa viagem espiritual é preciso que a atenção também esteja voltada para o coração, e não só para os eventos externos que vamos viver. É o que Lourenço da Ressurreição, leigo carmelita nascido em 1614, chamava de prática de estar na Presença de Deus. “Estou dedicado a estar na presença Dele pelo simples ato de estar atento, e também por sentir uma consciência amorosa e generalizada de Deus em mim e em tudo”.

 

Meister Eckhart descreve essa mesma integração radiosa com tudo com outras palavras: “Vede! Este homem vive numa única e mesma luz com Deus. É por isso que não há nele mesmo nem sofrimento nem sucessão, mas uma igual eternidade. Ele permanece num agora que, em todo o tempo e sem cessar, é novo”. É esse ser humano sereno, silencioso e, ao mesmo tempo, cheio de luz e amor que está preparado para experimentar essa comunhão final. E essa união pode acontecer de repente, diante de um por-do-sol numa montanha, no átrio de um templo ou simplesmente no contato profundo com o silêncio ancorado no fundamento do Ser. Pode ser total e intensa, ou apenas o suave perfume de uma outra realidade que se manifesta diante de nós por alguns segundos. Não importa. Delicados ou intensos, totais ou vislumbres fugazes, esses momentos serão para sempre um brilhante farol em nossas vidas.  

Veja agora como esse caminho espiritual interno se forma dentro de nós em A jornada

 

(Ilustração/crédito: http://catonhottinroof.tumblr.com/image/49016813928) 

 

 

  

 

 

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