Hi, dourou!!!

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Hi, dourou!!!

abril 20, 2016
Liane Alves
2 comments

 

Viver numa cidade pequena nos devolve prazeres há muito esquecidos, roubados pelo tempo em que permanecemos no trânsito dos grandes centros. Um deles: fazer supermercado com uma amiga, depois tomar um café, conversar sobre a vida e passear por meia hora num bairro de charme para beliscar alguma coisa ou trazer um mimo para a casa.

Foi o que eu fiz há três semanas com a Cláudia, minha vizinha, montanhesa como eu. Moramos no alto de uma colina em Campos do Jordão, entre araucárias e trechos de Mata Atlântica repletos de manacás. Nessa época (de fevereiro a março) as flores rosa e lilás estão em plena floração no meio da floresta. Por causa da proximidade das árvores, a temperatura aqui é dois a três graus mais baixa do que a registrada na cidade. E não é raro eu me ver dentro das delicadas nuvens que cobrem as montanhas da Serra da Mantiqueira, ou avistar largos arco-íris completos ao longe quando bate o sol. É um tal prazer estar aqui que muitas vezes nos recusamos a descer. Então, quando descemos, é realmente para aproveitar.

Duas mulheres juntas num supermercado agem de forma muito diferente do que, por exemplo, quando eu faço compras com meu marido. Para nós, essa não é uma tarefa a ser realizada da maneira mais rápida possível porque existem coisas mais prazerosas para fazer. Nós nos damos tempo. Todo o tempo do mundo. Há um discreto prazer em contemplar as verduras, compará-las, acariciá-las com os olhos e escolher a melhor. Ou em interromper tudo diante de um balcão refrigerado para trocar uma receita especial feita com salmão defumado, alho-poró, creme de leite azedo, erva-doce e dill. Lá descobrimos novos perfumes para a casa, como flor de laranjeira com vetiver, ylang-ylang com pimenta-rosa, bambu com hortelã e madeiras exóticas ou, então,  xicarazinhas de café coloridas de porcelana para, um dia, quem sabe, iniciar uma coleção.

Nos distanciamos uma da outra e depois nos encontramos de novo alguns corredores depois, como se fosse uma dança invisível. Num deles, Cláudia me fala de como montar um pudim com creme de chocolate e baunilha, com leite condensado diet por cima. No outro, eu conto os segredos de como variar pratos com shimeji ou champignons (o marido dela é vegetariano, e acho que vai adorar). No final, escolho um biscoito francês amanteigado com lâminas de amêndoas, em promoção, para a gente tomar depois na lanchonete do Pão de Açúcar. Da próxima vez, prometemos ir na Frutaria do Walter, que tem as melhores frutas e verduras de Campos, muito frescas, na maioria colhidas na região. E, para quem come carne, pode-se encontrar ali uma linguiça de pernil com pimenta muito boa, além de bolos, pães e queijos fresquinhos a bom preço, para levar para a casa. Um ou outro produto é mesmo mais caro, mas nem tanto.

Depois, pegamos o carro para ir para dar uma voltinha de meia hora no Capivari, bairro chique da cidade. Não podemos demorar por causa dos congelados, e porque ainda temos de fazer o jantar, e eu, terminar ainda um texto para a revista Vida Simples. Ao trancar as portas do automóvel, Cláudia se volta para dentro e sussurra. “Frango, se comporte e não me estrague, por favor”. Minha amiga é inesperada, e tem bom humor. Já acostumei.

Ao passar por uma avenida que ladeia um córrego, entramos por acaso numa fabriqueta de chocolate artesanal numa galeria. Ficamos um bom tempo por ali (daquela meia hora que nos permitimos). O perfume era inebriante, uma mistura de licor com chocolate. Uma das mulheres atendia sorridente (Rose, a dona), enquanto a outra (Lilian, a confeiteira) fazia delícias numa minúscula cozinha. Nas prateleiras, produtos de qualidade e toda uma linha diet de geleias e doces de muito sabor (os que provamos, ao menos) e uma dúzia de diferentes tipos de licores com chocolate como base e mais outro ingrediente como pistache, morango, amarula… A marca é quase desconhecida, Sabor Cacau, mas vale a pena experimentar quando vierem para cá. 

Entramos em mais duas lojas, cada uma, um futuro post, com certeza, não compramos nada (era apenas um seeing shopping) e voltamos por uma galeria, a Luís XV,  que ostenta uma mini-Tour Eiffel como símbolo, para pegar o carro. Ao descer as escadarias de lá, Cláudia de repente olha para cima e exclama: “Hi, dourou!!!!”. Fitei o olhar na direção da Vila Inglesa e fiquei boquiaberta. O outono tinha transformado o céu em ouro, com espaços em azul-claro e rosa como moldura. Nós mesmas estávamos inteirinhas douradas ao ser banhadas por aquela estranha luz.

Não existem palavras para descrever aqueles minutos.

A foto que abre esse post, feita pela Cláudia Albuquerque, é um pequeno testemunho daquele instante.

Até a próxima!

2 Comments

  1. Liane Alves abril 20, 2016at 1:49 am

    Obrigada, querida! Estamos ainda nos acomodando em Campos de Jordão, a mudança é recente, mas tem novidades no site que foram postados hoje para você dar uma olhadinha. Bem-vinda!

  2. Lu Bodeman abril 20, 2016at 1:49 am

    Nossa, que post lindo!!! Amei me adentrarem nessa paisagem transmitida pelo seu relato. Segui o caminho ate o seu blog, caminho este revelado na revista Vida Simples deste mes, e li a materia da capa. Maravilhosa!

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